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Keyboard and Mouse

Blogue da Roseli

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Foto do escritor: RoseliRoseli

“A Substância”, da francesa Coralie Fargeat, estreou no Brasil em setembro de 2024, e traz no elenco duas belíssimas mulheres, Demi Moore e Margaret Qualley.

Há marca de encontro dessas atrizes, a madura e experiente em seu papel excelente com a jovem que se depara com um ícone do cinema. De certa forma, emana coragem das duas. Moore por apresentar ao público que a prestigiou com Ghost, de 1990, uma atriz vibrante que aos 61 anos esbanja beleza e maleabilidade. Qualley, com 29 anos. Era de se esperar que 30 anos vão animar o debate. Metade da vida de Demi se encontra com a jovialidade de Margaret. Um encontro instigante.

A crítica tem tratado o filme com a alcunha de terror. É possível mesmo pensar no que escreveu Marcelo Rubens Paiva no jornal Folha de São Paulo, sobre o filme, em 6 de outubro de 2024: filme de terror é constatar que o bem-estar social e a saúde do planeta comandam a economia mundial. Segundo ele, isso sim é um filme de terror.

O fato é que os trinta anos que separam as duas personagens e as duas atrizes tocam em uma relevante questão dentro do filme. A estrela de Hollywood, Elisabeth Sparkle ganhadora de um Oscar, apresenta-se como professora de dança para sobreviver. Aos 50 anos é considerada velha. Será trocada por outra mais jovem, 30 anos mais jovem. O que fazer? Ceder esse lugar à outra não passa por sua cabeça, porque isso significa perder a única fonte de renda que ainda tem. Nesse momento, entra em cena um produto, ‘activador’, a substância. Daí para frente Elisabeth gera um seu outro eu, Margaret, mais jovem, e que tomará suas atividades no programa de dança. Mais ainda, a jovem vai sugar toda a essência de Elisabeth até nada mais sobrar, nem para ela mesma, porque- sabemos- ambas são uma só. Se uma sucumbe, a outra também.

No todo, a obra revela um dos graves sintomas da cultura: o descontentamento com seu próprio eu, uma ânsia de manter-se jovem, bonita, ativa para sempre. Qualquer semelhança da própria atriz, Demi Moore, ou com qualquer outra mulher madura, não é mera coincidência. Como no filme, temos visto corpos retorcidos e esticados transformando tudo em monstruosidade. Retomando o artigo de Paiva, é isso: criador e criatura deformados e destruídos.

Acompanhe a live no Youtube do Instituto Legus - https://www.youtube.com/c/INSTITUTOLEGUS/videos

 
 

Imagens da branquitude, de Lilia Schwarcz, da editora Companhia das Letras, é uma publicação de 2024.

Ao longo das 427 páginas, com ilustrações precisas, a autora, conforme está na quarta capa, mostra a longa história de como a branquitude se manifestou simbolicamente para estabilizar estruturas de subordinação.

O ponto central do livro convida o leitor a olhar para a produção de imagens ao longo do século 16, que passaram ao presente, que mostram a presença forte, mas racialmente ausente dos brancos em registros visuais.

Seguindo palavras da divulgação do livro: nesse livro, Lilia Schwarcz propõe um antídoto poderoso para desvendar a capa de invisibilidade que caracteriza a branquitude: ler seus rastros em imagens que compõem nossa história e imaginário. Por trás de tantas imagens lidas por Lilia há um país inteiro que ainda precisa se ver no espelho e que, por meio dessa obra-prima, Schwarcz nos permite enxergar com a clarividência que nos faltava.

Fica a recomendação.

Live no Youtube do Instituto Legus https://www.youtube.com/@INSTITUTOLEGUS/videos

 

 
 
Foto do escritor: RoseliRoseli

O último sonho, do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, foi publicado em 2024 pela editora Companhia das Letras. Como já apontamos aqui no Cultura em Foco sobre obras fílmicas de Almodóvar, vale ressaltar que a obra pode ser considerada autoficção ou aquilo que temos considerado como biografema na concepção de Roland Barthes, ou seja, trata-se de ficção que retoma aspectos pessoais de autoria.

Nessa obra, o autor retoma um alter ego já conhecido, Patty Difusa, em alguns dos contos. Patty é aquela voz das muitas coisas que Pedro adora dizer em relação à cultura, à hipocrisia social, entre outras. Em outras histórias, o narrador deixa clara a intenção pessoal quando narra sobre a mãe ou sobre artistas queridos que estiveram em sua vida.

De toda forma, Almodóvar aponta que sempre lhe pediram a escritura de autobiografia, mas ele sempre se negou a escrever sobre si mesmo. No entanto, nos contos de O último sonho, aqueles que acompanham o cineasta desde sua estreia em 1980, o reconhecem a cada passo, a cada fala.

Pedro acaba de conquistar o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2024 com a apresentação da obra The Room Next Door, gravado em inglês. Um feito e tanto por esses 40 e tantos anos na jornada cinematográfica.

Live no Youtube do Instituto Legus https://www.youtube.com/@INSTITUTOLEGUS/videos

 

 
 
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