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Blogue da Roseli

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Foto do escritor: RoseliRoseli

As relações entre cinema e psicanálise já começam pelo próprio ‘escurinho’ do cinema: todas as imagens são grandes metáforas metonimizadas. Assim como no sonho: flashes metafóricos apontam um descondensar interminável de possibilidades de análise. Talvez o cinema possa ser a possibilidade do sonho de olhos abertos.

Se tomarmos o cinema do espanhol Pedro Almodóvar, poderemos acompanhar uma certa normalidade incômoda, principalmente nos filmes da década de 80. São mulheres em estupros incômodos, relacionamentos incômodos. Todos normais? Ou apresentando uma estrutura perversa?

Principalmente, no domínio sexual, os acessórios inventados para dar diversidade à vida, loções afrodisíacas, trajes e instrumentos, chicotes. Mas não só, a questão da perversão como estrutura aparece no cinema como também em sonhos. O perverso assume o lado oposto, o verso, e instaura sua nova lei. Não se trata de perversão moral, embora de fato exista ali uma transgressão da ordem: voyeurismo, fetiches, por exemplo.

Assim, o cinema, no caso de Almodóvar, aponta a Espanha perversa dos resquícios de Franco, imagens veladas. Mas o cinema dele mostrou e tem mostrado que as coisas mudam. O que já foi considerado transgressão como as questões de gênero já não parecem fazer sentido no século 21. Será? É possível pensar que os preconceitos acabaram? Nem os de gênero, nem os sociais, basta ver como o racismo continua subvertendo a ordem. Ou a pedofilia. Precursor, o cinema chega antes. A psicanálise também. Confira o vídeo no Youtube do Instituto Legus

 
 
Foto do escritor: RoseliRoseli

Psicanálise e literatura mantêm relações muito estreitas. A matéria básica de ambas é o elemento linguagem. Há uma fala e uma interpretação que as permeia. Há a cura, pela psicanálise, de um real sintomático que não se suporta mais pelas vias imaginárias. Isso se dá pelo simbólico. Usar a linguagem para criar. Usar a linguagem poética para encantar.

No livro A menina de Lacan. Um conto Rosa, já no título há uma aglutinação que revela um pouco da obra A menina de lá, de Guimarães Rosa, analisada. Assim, a menina de lá transforma-se em a menina de Lacan. O conto é rosa e de Rosa. Assim trabalha a linguagem.

No caso desse livro, o conto é analisado de acordo com a questão da psicose que se descortina na personagem Nhinhinha. Muitas leituras dão a essa personagem uma interpretação metafísica, mítica. Claro, possível. No entanto, ao relacionar a literatura à psicanálise, a personagem do conto poderia ser a representação de um psicótico porque ela não estaria mais como um ser desejante. Teria parado de desejar? Seria prisioneira de um gozo mortal, da pulsão de morte?

A personagem é uma criança saudável, mas indiferente a tudo. Do nada passa a desejar coisas que acontecem. Milagres? Um último desejo expressa que ela gostaria de ser enterrada em caixão rosa de verdes funebrilhos. A profecia se cumpre. Um silêncio paira por toda a personagem porque ela para de falar e logo depois morre. Ou, um outro mundo se descortina, um mundo já preconizado sem laços sociais como quase sempre a pessoas psicóticas.

Vale a leitura do conto de Guimarães Rosa para estar próximo à linguagem metafórica muito apropriada àquela dos sonhos, da psicanálise. Freud e Lacan foram psicanalistas que fizeram das leituras literárias uma fonte de saber.

Confira o vídeo no Youtube do Instituto Legus

 
 
Foto do escritor: RoseliRoseli

Tutto chiede salvezza, de 2021, estreou na Netflix em 2022, é dirigida por Francesco Bruni, da Itália. A série é baseada no livro Tutto chiede salvezza, escrito por Daniele Mencarelli e publicado em 2020.

Por uma semana, Daniele fica internado em uma clínica para pacientes que apresentam algum tipo de comportamento considerado inadequado. Exatamente, depois de um surto causado pelo uso excessivo de drogas, o jovem agride o pai e acaba recluso. O prazo de reclusão é de uma semana. A princípio, trata-se de uma tortura em que o paciente mal consegue dormir por insônia e por conta dos exagerados gritos dos companheiros de quarto: um já homem maduro, um assumido homossexual, um jovem em estado catatônico e outros dois com explosões diárias.

Passados os dias, no entanto, Daniele começa a prestar atenção a si e aos demais com ele na mesma situação. Mário, o homem maduro fica a observar pela janela um passarinho que só ele vê. O jovem catatônico recebe visitas diárias do pai que a todos conta sobre o fato de o filho ter sido levado a fazer uma parede e, de repente, ter paralisado. Dia e noite ele fica deitado com os olhos abertos a dizer zero palavras. Gianluca lá está tão somente por sua opção sexual não aceita pelo pai, um general do exército. Giorgio, o psicótico que, apesar de amedrontar, transforma-se em meigo jovem que apenas está sem família e busca incessantemente a mãe morta. Madonitta, que grita pela Virgem, mas que se acalma com um cigarro. Ao lado de todos, a chegada à ala feminina de Nina, uma famosa atriz- marionete – faz com que Daniele comece a ver o mundo de outra forma.

Em meio a tudo, dois psiquiatras que se desdobram para atender a seus pacientes e três enfermeiros a ter que cuidar de tudo. Esse é o reflexo de um lugar que carece de recursos materiais e humanos para conseguir melhor atendimento. De qualquer forma, uma semana é o tempo deles na clínica. O tempo para que reflitam e possam voltar às suas casas e recomeçar.

É possível? Para Daniele, a arte da poesia parece ser uma saída.

Confira a live no youtube do Instituto Legus

 
 
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