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Blogue da Roseli

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Foto do escritor: RoseliRoseli

Nise da Silveira era psiquiatra e trabalhou a questão da arte em suas análises no sentido de humanizar as relações nos hospitais psiquiátricos. Com a criação do Museu do Inconsciente, ela percebe o processo artístico dos internos dos hospitais psiquiátricos e passa a reunir trabalhos deles com a ideia de preservar e conservar o material.

Nise afirmava que os desenhos daqueles pacientes eram mandalas e representavam a fala de Jung que escreveu que as formas circulares eram a tentativa de o esquizofrênico se reorganizar. Assim, contatos com a arte e com os animais eram formas de amenizar o comportamento da loucura em pacientes internos. Em suma, humanizar o tratamento dado.

O primeiro psiquiatra a utilizar a expressão artística em consultório foi Yung. Para ele, a simbolização do inconsciente individual e do coletivo ocorre na arte.

Na década de 20, recorreu à linguagem expressiva como forma de tratamento. Para isso, pedia aos clientes que fizessem desenhos livres, imagens de sentimentos, de sonhos, de situações conflituosas ou outras. Priorizava a expressão artística e a verbal

como componentes de cura.

O sentido aqui apontado trabalha a arteterapia. Diferente de analisar uma pintura com um olhar psicanalítico. São coisas diferentes. Confira o vídeo no Youtube do Instituto Legus

 
 
Foto do escritor: RoseliRoseli

Dois estudos de Freud abordaram as artes plásticas: Leonardo da Vinci e o Moisés, de Michelângelo. Temas como a questão do estranhamento estão presentes nessas análises psicanalíticas. Se tomarmos algumas obras de Arthur Bispo do Rosário, um artista plástico brasileiro que sofreu de esquizofrenia e esteve em várias instituições psiquiátricas por quase 50 anos, a questão do estranhamento está presente nas 802 peças que ele produziu.

O material para a arte era retirado do lixo. A reciclagem e a sucata faziam parte de suas obras. Sua obra só foi efetivamente descoberta nos anos 1980, quando seria classificada como arte vanguardista e comparada à obra de Duchamp

Entre os temas, destacam-se navios (tema recorrente devido à sua relação com a Marinha na juventude), estandartes, faixas de misses e objetos domésticos. A sua obra mais conhecida é o Manto da Apresentação, que Bispo deveria vestir no dia do Juízo Final. Com esse material, Bispo pretendia marcar a passagem de Deus na Terra. É preciso lembrar que ele também apresentava paranoias. Chegou a dizer que era um enviado de Deus, por exemplo.

O fato é que se pode distanciar a psicose da loucura no sentido de que a loucura seria uma possibilidade de todo ser, mas a psicose altera a condição da realidade como parte da esquizofrenia, uma síndrome neurológica.

Eis a questão em olhar sobre Bispo do Rosário: louco ou esquizofrênico?

Confira o vídeo no Youtube do Instituto Legus

 
 
Foto do escritor: RoseliRoseli

As relações entre cinema e psicanálise já começam pelo próprio ‘escurinho’ do cinema: todas as imagens são grandes metáforas metonimizadas. Assim como no sonho: flashes metafóricos apontam um descondensar interminável de possibilidades de análise. Talvez o cinema possa ser a possibilidade do sonho de olhos abertos.

Se tomarmos o cinema do espanhol Pedro Almodóvar, poderemos acompanhar uma certa normalidade incômoda, principalmente nos filmes da década de 80. São mulheres em estupros incômodos, relacionamentos incômodos. Todos normais? Ou apresentando uma estrutura perversa?

Principalmente, no domínio sexual, os acessórios inventados para dar diversidade à vida, loções afrodisíacas, trajes e instrumentos, chicotes. Mas não só, a questão da perversão como estrutura aparece no cinema como também em sonhos. O perverso assume o lado oposto, o verso, e instaura sua nova lei. Não se trata de perversão moral, embora de fato exista ali uma transgressão da ordem: voyeurismo, fetiches, por exemplo.

Assim, o cinema, no caso de Almodóvar, aponta a Espanha perversa dos resquícios de Franco, imagens veladas. Mas o cinema dele mostrou e tem mostrado que as coisas mudam. O que já foi considerado transgressão como as questões de gênero já não parecem fazer sentido no século 21. Será? É possível pensar que os preconceitos acabaram? Nem os de gênero, nem os sociais, basta ver como o racismo continua subvertendo a ordem. Ou a pedofilia. Precursor, o cinema chega antes. A psicanálise também. Confira o vídeo no Youtube do Instituto Legus

 
 
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